terça-feira, 24 de setembro de 2013

RESENHA DE VICTIM OF LOVE, SEGUNDO TRABALHO SO SOULMAN CHARLES BRADLEY


Charles Bradley
Victim of love (2013)
Por Marcello Zalivi
 
Não sou um especialista no gênero Soul Music, mas sou um grande admirador deste estilo, principalmente nos arranjos bem elaborados e regados no groove, onde o excesso nunca é demais (para mim).
 
Quando escutei pela primeira vez No Time for Dreaming, não conseguia acreditar que se tratava do álbum de estreia de Charles Bradley. Aquilo me parecia absurdamente maduro, aguçando minha curiosidade não apenas pelas músicas, mas também pela história deste soulman. Um tiozinho de 62 anos, ex-imitador de James Brow e andarilho, que já não esperava mais nada da vida como canta em “Why is it so hard”, um dos hits do seu primeiro álbum: “Por que é tão duro / Vencer na América (…) / É preciso ter amor e compreensão / Para viver e deixar viver (…) / Tive tempos difíceis”.
 
Fico realmente feliz em dizer que as expectativas sobre o segundo trabalho de Bradley foram positivamente correspondidas, o que ratifica a conquista do sonho americano deste velho, mas não cansado, soulman. Victim of Love é seguro e soa menos amargo e sombrio. Os arranjos da Menahan Street Band, banda cedida por sua gravadora a Daptone, garante a roupagem soul-retrô, especialidade do selo e de Bradley.
 
De cara, o álbum não decepciona. Com sua voz potente e marcante, Bradley pede passagem na belíssima “Strictly reserved for you”, canção que abre os trabalhos e segue com um andamento clássico bem sessentista em “You put the flame on it”. Na sequência, a linha chorosa da tradicional “Old School” faz os amantes do Soul viajarem no tempo com “Let love stand a chance” e “Victim of love”, faixas que parecem ter sido desenterradas de algum acervo perdido da Stax Records, famosa gravadora de Memphis, reduto do Rhythm and Blues (and) Soul.
 
Menahan Street Band e Bradley parecem ainda mais inspirados na sequência, seja na energia contagiante de “Love bug blues”, na viagem R&B instrumental de “Dusty blue” ou na textura psicodélica e rock´n roll de “Confusion” e “Where do we go from here”, onde os metais simplesmente derretem nos ouvidos se fundindo a voz portentosa do tio Bradley.
 
Em “Crying in the chapel”, o álbum volta a cadência tradicional e sofrida de Charles. Já em “Hurricane” os backing vocals e seu swing irresistível endossam ainda mais o pedido dramático de Bradley (“Stop killing your planet”).
 
Victim of Love não trás nada de novo, mas não é esta a proposta. Como o próprio Bradley costuma dizer, quando a música é boa e feita com emoção, ela transcende a necessidade de renovação e se torna algo maior. Deve ser por isso que com sua voz rouca e carregada de sentimentos, Bradley encerra álbum com a grata “Trough the Storm” (“I thank you, For helping me through the storm”).
 
Vida longa a Charles Bradley!
 
 
Strictly reserved for you


Essa e outras colunas no Troca Fitas

0 comentários:

Postar um comentário