quinta-feira, 5 de setembro de 2013

RESENHA DE AM NOVO ALBÚM DO ARCTIC MONKEYS

Por Marcello Zalivi 

Você provavelmente vai ler em muitas resenhas que o Arctic Monkeys é uma das bandas que mais evoluíram no cenário indie rock atual. Não deixa de ser um clichê, como não deixa de ser uma verdade. Talvez por isso soe estranho que AM, certamente o álbum mais diversificado do grupo, tenha causado tanto espanto.

O novo projeto dos garotos de Sheffield chega cercado de influências como de expectativas. Bateria eletrônica, referências de groove e R&B, backing vocals explorados ao extremo, rock 70, hip-hop e cabelinhos estilo Rockabilly muito bem ajeitados. Junte neste caldeirão a presença certa de “R U Mine?” (2), que nada mais é do que o anúncio oficial de que seu time já começa a temporada com um craque em campo, e as ótimas “Do I Wanna Know?” (1) e “Why’d You Only Call Me When You’re High?”. É impossível não esperar nada menos que um grande álbum, certo? Não tão certo assim, pelo menos é o que sugere as primeiras reações sobre este polêmico trabalho que divide opiniões.

As excelentes faixas (1) e (2) citadas acima, acompanhadas de “One For The Road” e a candidata a hit “Arabella”, para muitos já justificariam a presença de AM entre os trabalhos mais representativos da banda. Li no Popload que “Arabella” seria a “War Pigs” indie, achei interessante a citação, o riff realmente lembra o peso da canção do Sabbath e fecha a sequência inicial do álbum com chave de ouro.

Mas o problema é o que vem depois, e é nessa hora que o Arctic Monkeys sente o peso que tem (por méritos) na cena atual, abrindo os braços para o caminhão de críticas que se segue. “I Want It All” deve estar entre as piores composições do grupo, pecando demasiadamente em seus excessos, assim como “No. 1 Party Anthem” não se sustenta, é insossa e acaba por prejudicar “Mad Sounds”, canção daquelas que sempre estiveram presente nos trabalhos anteriores do grupo, naqueles momentos em que Alex Turner pega o violão e joga para a plateia. Ela até tenta, mas não consegue salvar o clima brochante causado pelas faixas anteriores.

Já em “Fireside”, a banda mostra como o excesso na embalagem pode prejudicar uma música com enorme potencial. A canção tem seus méritos e um deles é preparar o terreno para a ótima “Why’d You Only Call Me When You’re High?”, que faz brotar as expectativas para uma sequência final matadora.

“Snap Out of It” até consegue acalmar os fãs menos extremistas da banda, com seu refrão pegajoso e os backing muito bem trabalhados, mas pode acender o estopim pra o que está por vir.

“Knee Socks” não é a pior música do quarteto, mas, sem dúvida é a mais ousada e “talvez” o seu maior erro. Não fosse o vocal característico de Turner, provavelmente seria impossível definir a canção como uma música do Arctic Monkeys. Ela tem um bom arranjo e uma boa linha melódica para tocar em qualquer FM, mas é de um apelo pop excessivamente exagerado e que nada tem a ver com o que já foi feito pelo grupo. O foco na embalagem e os vocais “Destiny’s Child”, soam como uma boy band. Nem mesmo a presença de Josh Homme é capaz de salvar a faixa, o que só confirma a minha tese de que o líder do QOTSA está ficando confortável na sua posição de tiozão do rock. Logo ele, que tinha dado uma boa contribuição na carreira do grupo produzindo o experimental Humbug. 

Apesar disso, AM é tão controverso que tanto “Knee Socks” quanto “Fireside” podem funcionar surpreendentemente bem em cima do palco, por conta da força que o grupo tem em suas apresentações e a roupagem mais “crua” que essas canções devem receber ao vivo.

“I Wanna Be Yours” serve para fechar melancolicamente o álbum, jogando uma pá de cal nas expectativas de quem esperava mais um clássico até o último segundo. Não é uma faixa obrigatória em um set list. Pode até dizer muito se escutada no momento certo, mas é pouco para fechar um dos trabalhos mais esperados do ano.

É certo que AM fica melhor a cada audição, ainda mais com bons headphones, não é um disco para ser ferozmente subestimado logo de cara. Apesar das muitas derrapagens, o DNA característico do grupo continua intacto, assim como sua linha criativa e a vontade de flertar com novas texturas sonoras.

Entre as melhores definições, ouvi que o AM começa com uma candidata a hino e termina como um Justin Timberlake usando calças de couro. Acho que não é tão extremo assim. Para mim, pareceu que o Arctic Monkeys conseguiu mostrar o melhor e o pior de si mesmo. E isso não é ruim, mostra que a banda não se manteve na zona de conforto como tantas outras por aí.

Essa e outras colunas no Troca Fitas

Arctic Monkeys - Do I Wanna Know?

Arctic Monkeys - Arabella

Arctic Monkeys - Why'd You Only Call Me When You're High?

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