quinta-feira, 14 de março de 2013

Rádio Rapadura: David Bowie


 Por Marcello Zalivi

Para abrir o espaço Rádio Rapadura, não poderia deixar de começar com uma das minhas maiores influências musicais, o camaleão David Bowie.

Nunca havia dado muita atenção para Bowie, até ganhar de um professor com quem compartilhava o gosto pela música, o CD Reality de 2003. Antes disso, de quase desconhecido, David Robert Jones – seu nome real – passou a ser figura indispensável no meu set list.

Achava incrível a facilidade que Bowie tinha de montar personagens e com seus alter-egos (Como Thin White Duck e Ziggy Stardust) criar obras memoráveis, muitas delas incompreendidas para a época vigente, o que sempre reforçou a genialidade do cara. O que era perceptível e ainda hoje fácil de notar, é como todas as bandas que transitam da música Pop ao indie Rock e world music, bebem em demasia da fonte de inspiração deixada por Bowie.

O seu legado é tão forte que é possível ver a assinatura de Bowie até quando a obra não é sua, é cada vez mais notória a influencia que este inglês deixou na música. Seus flertes com o Jazz, Soul, Hip Hop, Pop, rock e até mesmo a música eletrônica que ecoava em Berlim, produzidos com a colaboração de Brian Eno, entre 1977 e 1979. Gerando os álbuns Low, Heroes e Lodger, todos eles acima da média. Sem contar nas incríveis parceiras, como Queen, Mick Jagger, entre outros.

É esperado que um artística completo como David sempre esteja na contramão de seu tempo, seja na ousadia e inquietude sonora, seja na personificação do espetáculo sobre óticas antes nunca imagináveis. Talvez por isso, que dez anos depois do meu primeiro contato com Bowie e coincidentemente o tempo de hiato do mesmo, que o cara volta em cena com aquele que pode ser seu último álbum, The Next Day, que acabou de ser lançado oficialmente.

Muita gente ficou surpresa não apenas pelo aguardado retorno do gênio, mas pelo fato de não haver nenhum estardalhaço em sua volta. Sem entrevistas badaladas, fotos de divulgação, aparições em programas de TV, lançamentos mundiais, turnês estratosféricas. O que nos faz retornar ao parágrafo acima, quando disse que Bowie sempre esteve na contramão, nadando contra a maré.

Hoje o que percebemos é o culto a alta exposição, todos querem aparecer, utilizam se de qualquer artimanha, das inúmeras redes sócias em busca dos seus 15 minutos (seriam segundos?) de fama. E eis a estratégia de Bowie, ele faz simplesmente o oposto. Desde a capa que esconde o seu rosto, lembrando a lendária capa de Heroes, até o lançamento do seu primeiro single, a melancólica, mas não menos fantástica “Where Are We Now”, algo comercialmente impensável em termos de trabalho junto as Rádios, TVs e indústria.

Em “The Stars (Are Out Tonight)”, Bowie ratifica o bom gosto na sua famosa mistura audiovisual, sua proximidade com o cinema, roteiros e afins. Também fica evidente – não poderia ser diferente – que Bowie continua assertivo em sua banda de apoio, tendo ao seu lado em algumas faixas, a presença do baixista Tony Levin, ex-líder do Genesis, apostando em uma cozinha muito bem azeitada.

Resta aguardar que o álbum esteja disponível logo para nossa apreciação completa, esperar que este não seja o último trabalho do cara, que não tenhamos que esperar por longos hiatos na expectativa de mais uma obra que venha trazer vida no cada vez mais estéril mundo da música.
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