
Parece estranho para mim, mas sempre pensei em minha
primeira resenha literária do Rapadura sobre algum trabalho do meu escritor preferido,
Hermann Hesse, ou sobre alguma obra que tivesse me marcado ao longo dos anos.
Mas para minha surpresa um livro me veio à mão e fez todo o sentido. “Luz & Sombra: Conversas com Jimmy Page” (Globo Livros, 288 páginas, R$ 39,90).
Confesso que não sou de biografias, mas a forma ávida que destrinchei o livro e
por ser fã do Led Zeppelin, me deu a certeza de que seria um bom começo para
esta seção do blog.
O livro foi escrito pelo jornalista Brad Tolinski,
editor-chefe da revista Guitar World, uma das mais conceituadas e inovadoras sobre
o assunto. Ele reúne entrevistas e fatos históricos de uma das mais lendárias e
criativas figuras do Rock, em uma narrativa leva e prazerosa.
A obra começa contando o gênesis de tudo, com o
infante Jimmy descobrindo em 1952 um velho violão em sua casa, situada em Miles
Road, no Surrey – Inglaterra - até sua ascensão aos arredores de Londres, a escola de artes, sua
idolatria por heróis do blues e é claro, suas primeiras peripécias na guitarra.
A narrativa percorre rapidamente este trecho e recorre aos
tempos em que Page inconscientemente arquitetava o som que viria a revolucionar
o Rock. De prodígio dos estúdios, quando gravou guitarra em diversas bandas da
época (incluindo The Who e The Kinks), os jingles, os tempos de Yardbirds e
suas primeiras turnês em solo americano. Foi o estopim para que Page criasse a
química perfeita. Conhecimentos técnicos para captar o som que desejava, total
domínio do instrumento (adquirido nos tempos de estrada com Yardbirds) e a
percepção do principal mercado mundial e seus gostos e rumos.

Ao mesmo tempo em que o livro relata as épicas apresentações
e experiências da banda aos longos dos anos, torna-se também quase que uma
bíblia da guitarra. Jimmy fala profundamente sobre os recursos, programas,
instrumentos e equipamentos que utilizou para fazer o som de guitarra mais
revolucionário da história. Conta desde os casos do primeiro pedal de chão, o
Fuzz Box 1964, criado por Roger Mayer e de muitas outras geringonças que
serviram de base para o que é feito hoje em dia. Revela segredos de gravações
de várias faixas, como conseguiu dar ambientação e profundidade ao som da
banda, e a maneira que microfonava a baterias de Bonham, sempre em busca de
algo original.
Ele explica como amadureceu o som do Led ao longo dos anos,
fala sobre as suas parecerias como Jeff beck, David Coverdale, Black Crowes, Jack
White, entre outros. Alem de situações inusitadas da sua vida, o seu flerte com
trilhas para cinema, problemas para encontrar partes do acervo da banda e como
deu a elas tratamento para deixar o legado do Led com a qualidade que sempre
lhe foi peculiar.
As entrevistas com Jimmy e convidados, que sempre precedem
os capítulos, é outro trunfo para garantir dinamismo ao livro e dar uma visão
mais pessoal e/ou diversificada para a obra do músico. Também para trazer a
tona outros assuntos dos quais Page sempre esteve indiretamente ligado, como a moda
e astrologia.
O livro é bem despojado, apesar de muito informativo sobre
datas, equipamentos e afins. Em diversas partes é possível encontrar histórias
engraçadas e curiosas, tais como o encontro com Elvis, sua visita a países
exóticos, casas mal assombradas e a origem do nome Led Zeppelin. Trunfos assertivos
para manter a curiosidade do leitor aguçada
É o típico livro que te instiga não só a ler, mas a revisar
cuidadosamente toda a obra da banda (e de Jimmy), a prestar atenção em detalhes
que antes passavam despercebidos em muitas das músicas que são citadas ao longo
da biografia. O que torna “Luz & Sombra: Conversas com Jimmy Page” uma obra
obrigatória para roqueiros e amantes da música e suas histórias.
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Entrevista com Brad Tolinski sobre o livro:
Algumas performaces ao vivo da banda:
Led Zeppelin "In My Time Of Dying" Live at Earls Court 1975.
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